Tatiana Santos
O português é o quarto idioma mais falado no mundo, ficando atrás somente do mandarim, inglês e espanhol, com 260 milhões de falantes no mundo. O idioma se difere em diversas características, a depender do país de seus falantes. Mas um fato inegável, é que o bom uso da língua portuguesa significa ter várias senhas de acesso social. Quanto maior o conhecimento acerca do português, e, sobretudo, dos contextos em que ele será utilizado, de acordo com a formalidade, a gramática normativa, mais garantias de aprovação dentro da sociedade. Essa é a afirmação da professora especialista em língua portuguesa, a itabirana Letícia Sá.
Apesar disso, nem todas as pessoas têm acesso a essa gramática normativa, ou seja, ao padrão de fala e escrita. Para que isso ocorra, tudo deve passar pela educação, o que permite que o falante se torne, de fato, um cidadão, podendo exercer seus direitos e deveres, defende a professora.
Ela exemplifica, na prática: “Nós temos um documento chamado Constituição Federal, e, ao nos depararmos com ele, percebemos o quão complexo pode ser o entendimento sobre a linguagem jurídica. E, quando caminhamos para outros contextos, sejam eles o político, o científico, percebemos essas dificuldades também. Por isso, é necessário que saibamos como cada um desses contextos se aplicam à língua portuguesa de diferentes formas, para que tenhamos conhecimento daquilo que está sendo transmitido para nós”, argumenta Letícia.
Variações linguísticas
A língua portuguesa vem se desenvolvendo ao longo dos anos, no que é chamado de variação histórica ou diacrônica. Com isso, muitas palavras sofreram mudanças com o decorrer do tempo. Um exemplo é a palavra ‘você’, que passou por um processo de variação linguística. “Antes era vossa messê, que foi para vosmecê, depois vosmecê, vancê e virou você. E agora, nós estamos tendo o movimento de vc. É bem difundido, não só na internet, mas em contextos informais de uso da língua”. Outro exemplo, é que antigamente as farmácias tinham ph ao invés do f no início da palavra. Ou seja, a grafia correta em outra época era pharmácia, e não, farmácia.
Apesar de haver essa variação diacrônica e ela se tornar difundida pela sociedade, nem todas as formas de escrita e fala são aceitas em contextos formais. É o caso da linguagem neutra, que é uma maneira de comunicação que visa incluir todas as pessoas, independentemente da identidade de gênero e sexualidade. A docente esclarece que pelo viés linguístico, que é a ciência que estuda a língua, deve-se aceitar essas transformações de forma natural. “No entanto, nós, como sociedade, devemos avaliar a aplicabilidade dessas palavras em determinados contextos sociocomunicativos. Então, por exemplo, não serão todos os lugares sociais que irão conseguir aderir a esse tipo de linguagem ou entender essa linguagem”, comenta, acrescentando que esse é um processo que ocorre dentro de nichos sociais muito específicos.
Pelo fato de a linguagem neutra não ser dicionarizada/regulamentada, ela não é aceita em concursos públicos, por exemplo, ou em questões do Enem. A menos que caia dentro de um texto de interpretação, em que se exija interpretar aquele uso, dissertar criticamente sobre o assunto. “Mas você escrever numa redação, por exemplo, todes (ao invés de todos/todas), que é um uso da linguagem neutra, não é aceito. Por que que não é aceito? Porque não está dicionarizado, regulamentado, institucionalizado dentro da língua portuguesa”, finaliza.
Dicas de português toda semana
A partir do próximo dia 18 de novembro, a professora Letícia participará do programa Conexão Regional, da Rádio Pontal, com informações rápidas de português. As abordagens serão todas as segundas e quartas-feiras. Letícia é sócia-fundadora da Sala Verbete, que é um preparatório para Enem, cursos e concursos, focado em redação, matemática e gramática. Ela atua junto dos professores e sócios Ivan de Souza e Carolina Carvalho.