Informação foi confirmada a O TEMPO por Jorge Luiz Morais Dias, filho da mulher de 75 anos que está internada em estado grave na capital mineira
Um exame feito em uma das vítimas que acabaram intoxicadas após a ingestão de uma torta de frango em uma padaria do bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte, teria descartado a existência das substâncias normalmente presentes no veneno conhecido popularmente como “chumbinho”. A informação foi confirmada a O TEMPO com exclusividade pelo filho da idosa de 75 anos, que segue em estado grave em uma unidade de saúde da capital mineira.
“Foi feito um teste em laboratório particular, pelo convênio. No momento o quadro médico de todos ainda permanece o mesmo, mas já foi descartado o ‘chumbinho’. Estamos aguardando o teste para botulismo”, detalhou Jorge Luiz Morais Dias, filho de Cleuza Maria de Jesus Dias.
Segundo o registro policial, a perícia da Polícia Civil foi acionada e já recolheu amostras dos produtos alimentícios. Entretanto, segundo o relato de familiares das vítimas à polícia, exames preliminares feitos pela equipe médica já tinham indicado para a possibilidade de intoxicação por três possíveis substâncias: carbamato, organofosforado e toxina botulínica
As duas primeiras substâncias normalmente são encontradas no veneno conhecido como “chumbinho”, segundo o doutor Egon Campos dos Santos, químico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, as três substâncias são altamente perigosas à saúde humana.
Porém, a toxina botulínica seria a mais grave delas. Ela é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, que pode estar presente em alimentos em conserva, como palmito, compotas e produtos de origem animal mal conservados. Apesar de largamente utilizada por médicos e dentistas para fins estéticos, no famoso “Botox”, a substância deve ser aplicada localmente, pois, se cair na corrente sanguínea, pode causar a morte por falta de ar.
“Ela bloqueia a liberação de acetilcolina nas terminações nervosas, causando paralisia muscular progressiva que, se atingir os músculos respiratórios e não for tratada rapidamente, pode ser fatal”, completa o especialista.
Relembre o caso
Três pessoas foram hospitalizadas em estado grave após ingerirem torta de frango e empadas adquiridas em uma padaria localizada no bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte. Os sintomas de mal-estar surgiram na terça-feira (22), um dia após o consumo dos produtos. A polícia não descarta a possibilidade de envenenamento ou de contaminação causada por alguma toxina ou microorganismo.
Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), as vítimas são uma mulher de 75 anos e um casal, com 23 e 24 anos. Elas compraram os alimentos na segunda-feira (21) e, ainda no mesmo dia, retornaram ao estabelecimento para devolvê-los, alegando que estavam impróprios para consumo.
Funcionários da padaria informaram aos policiais que aceitaram a devolução e reembolsaram os clientes. Ainda conforme o boletim, os produtos apresentavam odor forte e aspecto deteriorado. Os alimentos teriam sido preparados no sábado (19) por um padeiro contratado temporariamente.
O dono da padaria confirmou a versão. Conforme registrado no documento policial, ele declarou que contratou o profissional como freelancer e não mantinha contato com ele. Disse ainda desconhecer o endereço do padeiro, que trabalhou no local por apenas seis dias, encerrando suas atividades no domingo (20). O pagamento, segundo o proprietário, era feito em dinheiro, sem registro formal.
A padaria foi interditada até a chegada da perícia da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). A Vigilância Sanitária foi acionada, mas, de acordo com a PMMG, não havia equipe disponível para vistoriar o local na terça-feira (22).
A padaria foi interditada na manhã desta quarta-feira (23). “A medida foi necessária porque o estabelecimento não possui Alvará Sanitário e nenhum cadastro no serviço para iniciar o processo para liberação do documento. Além disso, foram encontradas irregularidades no que se refere a questões de higiene e estrutura sanitária”, disse a Prefeitura de BH. O local, no entanto, está com o Alvará de Localização e Funcionamento (ALF) em situação regular.
FONTE: OTEMPO