Nos dias extremamente quentes, como os que bateram recordes de temperatura nesta semana, é difícil encontrar alguém que não tenha alguma queixa, seja de mal-estar, dor de cabeça, suor excessivo, dificuldade para dormir ou desidratração. O calor afeta a disposição e a concentração, compromete a produtividade no trabalho e nos estudos e ainda tem efeitos negativos na economia, nos mais diversos setores.
Para Marta Camila Carneiro, professora de MBA da FGV (Fundação Getulio Vargas), os prejuízos para a economia acontecem em efeito dominó: “Quanto menos o empresário vende, menos ele lucra, e quando o lucro diminui ele demite”, explica.
Ela diz que, não só por conta do mal-estar, mas também para se hidratar, o trabalhador faz mais pausas durante o expediente, e a queda no rendimento é inevitável. A menor produtividade é ruim para fábricas e empresas, pois gera atrasos e causa prejuízos. “Existe o risco de todo o país produzir menos.”
Se, por um lado, a produtividade e a produção diminuem, de outro, os gastos tendem a subir. Alguns produtos podem faltar nas prateleiras dos supermercados ou ficar mais caros por causa do calor. “Não está descartada a possibilidade de uma nova e grave crise hídrica, como a de 2014”, diz Marta.
Saúde do corpo e do bolso
Manter o foco fica mais difícil nos dias de calor intenso, em ambientes pouco ventilados ou sem refrigeração, mas trabalhar em lugares abertos, sob o sol forte, também se torna inviável em alguns horários.
“Pode ser necessário adotar uma medida que proíba o trabalho ao ar livre nas horas mais quentes do dia, como aconteceu no início do ano na Europa e nos países árabes, que enfrentaram uma onda de calor semelhante”, avalia João Batista de Oliveira Bolognesi, professor da Faculdade Anhanguera.
Ele alerta sobre a possibilidade de haver mais licenças médicas de trabalhadores, já que a saúde das pessoas ficará mais fragilizada. “O bolso dos brasileiros será afetado pelo aumento no consumo de remédios, principalmente por quem não se hidrata adequadamente. Outro impacto será na conta de luz, devido ao maior consumo de energia elétrica.”
Segundo o professor, isso acontece pela necessidade de usar ventilador, ar-condicionado e outros aparelhos eletrônicos ao mesmo tempo, para diminuir a sensação de calor.
“A onda de calor não favorece quase nenhum setor [da economia]”, diz a professora Marta Carneiro, da FGV. “As fábricas de ventiladores e ares-condicionados talvez consigam melhorar suas vendas, assim como os produtores de bebidas e sorvetes. O turismo também pode ser beneficiado, principalmente nas regiões costeiras e serranas, que têm temperaturas mais amenas”, avalia.
Agronegócio
Além das pessoas, plantas e animais ficam mais vulneráveis com o calorão. Na agricultura, toda a cadeia é afetada pelo superaquecimento. “Algumas pragas podem ficar mais resistentes, e vai ser necessário usar mais fertilizantes, agrotóxicos e investir em outras estratégias de controle, elevando os custos de produção. Esse aumento é repassado para o consumidor, piorando o poder de compra”, explica Marta.
Ela destaca que existem culturas que não se adaptam ao calor, como o café. “Essa planta precisa de temperaturas mais amenas para a produção ser boa e de qualidade. Com o calor acima da média, vai haver perda e, consequentemente, falta desse produto, e o preço vai subir.”
A projeção do professor da Anhanguera João Bolognesi não é de um futuro mais animador para a agricultura, que é a base da indústria alimentícia. “Por conta do calor excessivo, os produtores rurais podem enfrentar um aumento das pragas e do consumo de água, safras com produção reduzida e dificuldades em conseguir financiamentos”, afirma.
Em um cenário mais amplo, os prejuízos no agronegócio podem desequilibrar a balança comercial brasileira, “principalmente no que se refere à safra de grãos”, finaliza o docente.
Fonte: R7