O primeiro dia do julgamento de Daniel Alves, nessa segunda-feira (5), foi marcado pelo depoimento da jovem que acusa o jogador de estupro. A mulher de 24 anos falou por pouco mais de uma hora e manteve sua versão original, de que sofreu agressão sexual há cerca de 13 meses, no banheiro da boate Sutton, na Espanha.
O baiano, que está em prisão preventiva há mais de um ano, também esteve no Tribunal de Barcelona, e acompanhou a audiência sem estar algemado. Um guarda esteve ao seu lado o tempo todo nessas primeiras horas de sessão. Foi a primeira vez que o atleta apareceu publicamente desde que foi preso, em 20 de janeiro de 2023. Familiares do jogador, como o irmão Ney Alves, e a mãe, Lúcia Alves, marcaram presença no julgamento, mas não tiveram contato com o réu.
A amiga e a prima da jovem, que a acompanhavam na noite de 30 de dezembro de 2022, também testemunharam neste primeiro dia, assim como três funcionários da boate Sutton. O julgamento seguirá nesta terça-feira (6), a partir das 11h, quando estão previstos mais 22 depoimentos. Entre as pessoas que devem ser ouvidas, está a mulher de Daniel Alves, a modela espanhola Joana Sanz, e seu amigo Bruno, que estava com ele na ocasião.
Pelo cronograma inicial do julgamento, o brasileiro falaria já nesta segunda-feira (5). Mas ele pediu para que seu depoimento fosse adiado para quarta-feira (7), após todas as testemunhas fossem ouvidas, e teve o pedido acatado pela juíza Isabel Delgado Pérez.
No início da sessão, a advogada de Daniel Alves, Inés Guardiola, reclamou de um “tribunal paralelo”, feito pela imprensa, que teria contaminado o magistrado. A defesa pediu ainda a anulação do julgamento oral, argumentando que o período inicial de investigações não teve o conhecimento do jogador, durante o qual ele poderia ter feito um teste do bafômetro. Também falou sobre a não aceitação do juiz de instrução para que um segundo perito examinasse a denunciante. O pedido, porém, foi negado.
O julgamento
A primeira pessoa a ser ouvida no tribunal foi a suposta vítima. Ela falou por cerca de 1h15 e reforçou que foi agredida sexualmente por Daniel Alves. Para garantir proteção à identidade da denunciante, a Audiência de Barcelona tomou uma série de medidas restritivas: o sinal interno disponível para jornalistas foi cortado e a voz da jovem foi distorcida para que, mesmo no futuro, não possa ser identificada. Além disso, ela se sentou atrás de um biombo, para evitar contato visual com o jogador.
Em seguida, prestaram depoimento sua amiga, que chorou algumas vezes ao relatar sua versão dos fatos, e sua prima. As três estavam na boate Sutton, na noite de 30 de dezembro de 2022, quando o jogador teria cometido o estupro.
Segundo a amiga, em um determinado momento da noite, a prima da jovem lhe avisou “que precisavam ir embora”. “Ela me disse: ‘Ele ejaculou dentro, me machucou muito’. Eu a conheço desde os três anos e nunca a vi chorar daquele jeito. Nós três choramos, eu não sabia como reagir naquele momento”.
A testemunha garantiu que, de forma alguma, a relação de sua amiga com Alves foi consensual: “Ela não quis, não, não, não”. Quando questionada pela acusação sobre o que a suposta vítima lhe contou que aconteceu no banheiro, a amiga afirmou: “Ele a agarrou e a jogou no chão e disse algo como ‘você é minha putinha'”.
“Ela não queria denunciar, realmente foi muito difícil. Ela estava em choque. Até hoje está muito mal, perdeu muito peso, está ansiosa. Reduziu seu círculo de amigos porque não confia em ninguém. Está obcecada com tudo isso, não sai de casa. Acha que todo mundo está olhando para ela e tirando fotos”, continuou.
A amiga da denunciante também respondeu a perguntas da advogada de Daniel Alves, Inés Guardiola, que tentava encontrar contradições nas respostas da testemunha. Mas a amiga respondeu uma série de respostas iguais – “não me lembro”.
Em seguida, veio o depoimento da prima da suposta vítima. “No começo estava tudo bem, depois ficamos um pouco desconfortáveis. Dançaram muito perto de nós, houve momentos em que nos tocaram. Dani Alves colocou a mão na minha região íntima. Na minha prima também”, falou.
“Fui falar com ela e me disse que o Alves estava insistindo muito para que eles fossem para algum lugar. Ela não queria. Ela contou que Dani entrou por uma porta e achava que era uma sala para fumantes. Depois, me disse que precisava ir embora e saímos de lá”, continuou a prima.
“Antes de chegarmos à chapelaria, minha prima me disse que ele tinha machucado muito ela e que tinha ejaculado dentro. Um porteiro nos nos disse que tinha que ativar o protocolo e nos levaram para uma sala mais reservada. Ela disse que não queria denunciar, que queria ir para casa”, completou.
Segundo a testemunha, nesse momento, o jogador e seu amigo passaram por elas. “Ele não fez nada, continuou andando, foi embora”, comentou. “Minha prima não dorme, ela começou a tomar antidepressivos. Não tomava nem paracetamol para enxaqueca. Ela mal sai de casa. Choramos dia após dia. … Não sei, é errado”.
Em seguida, dois garçons da boate Sutton prestaram depoimento e disseram não notar “nada de estranho” no comportamento de Daniel Alves naquela noite, mesmo com o álcool ingerido. Um deles afirmou que o jogador era um cliente habitual da boate e sabia da existência da suíte dentro da área VIP. Lá, está o banheiro onde teria sido cometido o crime.
Mais tarde, foi a vez do porteiro da casa noturna dar sua versão dos fatos. Ele confirmou que, quando conversava com a denunciante, o atleta passou ao lado sem dizer nada, “olhando para frente”.
O julgamento, na 21ª seção da Audiência de Barcelona, é presidido pela juíza Isabel Delgado Pérez, acompanhada dos magistrados Luis Belestá Segura e Pablo Díez Noval. O segundo dia, nesta terça-feira (6), terá os depoimentos de 22 testemunhas.
Já o terceiro dia será dedicado a análise de dados periciais, como imagens das câmeras de segurança da boate onde aconteceu o caso, e exames médicos realizados pela denunciante. Não há prazo para o anúncio da sentença, que será decidida pelos três juízes do caso. Até lá, Daniel Alves vai continuar preso de maneira preventiva. A pena máxima, sem agravantes, para um estupro na Espanha é de 12 anos, tempo pedido pela acusação. Já a defesa do brasileiro pede a absolvição.
A defesa do atleta, aliás, deve apresentar no julgamento uma quinta versão do que teria acontecido naquela noite e, segundo os jornais La Vanguardia e El Periódico, o brasileiro vai declarar que estaria embriagado. A advogada Inés Guardiola sustentaria que o acusado “não tinha plena consciência do que fez”. Fonte: Correio 24h