Marcos Gabiroba
NA VIDA DEVEMOS DIZER “SIM” OU “NÃO”
Você caro ouvinte já viveu o dilema de dizer sim ou dizer não a alguém? Eu, modestamente já vivi esse dilema e como é difícil sair dele. Assim como a história mais difícil de escrever sobre a nossa própria vida, a complexidade é obscura, inocente ou perversa – bem como as narrativas fictícias.
Lembro-me de quando advogava, sem falsa modéstia, fui um especialista em Direito do Trabalho apareceu em meu escritório um senhor que queria entrar na Justiça do Trabalho contra à Vale do Rio Doce, na época, para reivindicar direitos trabalhistas que julgava possuir.
Analisei, detidamente e com muito cuidado toda a documentação que o pretendente possuía, em especial, a Rescisão do Contrato de Trabalho, os Contracheques e recibos de pagamentos. Depois do exame, inusitadamente feito, conclui que os direitos do pretendente já estavam prescritos. Momento em que disse ao cliente que seus direitos já estavam mortos. Ele assustado disse-me: “tenho outros advogados que podem entrar na Justiça para mim”, saindo do meu escritório cuspindo marimbondos e expressando palavrões inimagináveis. Tranquilamente, entreguei aquela cena a Deus e rezei, somente rezei. Tempos depois, aparece em meu escritório o mesmo indivíduo, agora já mais educado e disse-me: “o senhor estava com a razão, quebrei à cara!”.
Meus amigos e amigas, durante muito tempo, anos até, brinquei, com a ideia de dizer “sim” ou “não”, a nós mesmos, aos outros, à vida, aos deuses como parte essencial dessa escrita do nosso destino com os naturais intervalos de fatalidades que não se podem evitar, mas têm de ser enfrentadas. Como taurino que sou, acredito em pegar um touro pelos chifres, mas muitas vezes fiquei simplesmente deitado e ele me pisoteou com gosto. Afinal de contas a gente é apenas um ser humano. Nessa nossa difícil história de dizer “sim” ao negativo, ao sombrio, em lugar de dizer “sim” ao bom, ao positivo, o desafio é maior. Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra, de assumir uma ou outra postura. O risco de errar pode significar inferno ou paraíso. Também descobri (ou inventei) que existir um ponto cego da perspectiva humana, em que não se enxerga o outro, é apenas olharmos um lado positivo ou negativo dele, como por exemplo: ele possuir um olho vazado, um olho de vidro, a sua boca cerrada, seu coração amargo, sua alma árida, são observações positivas ou negativas. O ponto cego das nossas escolhas vitais é aquele onde agente pode sempre dizer “sim” ou “não”, e nossa ambivalência não nos permite enxergar direito o que seria melhor na hora: depressa, agora. O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse “não” primeiro. E todos, ou os dois, deviam naquele momento ter dito “sim”.
Viver a cada dia se repensar: feliz ou infeliz, vitorioso, derrotado, audacioso ou com tanta pena de sei mesmo. Não é preciso inventar algo novo. Inventar o real, oque já existe, é conquistá-lo: é o dom dos que não acreditam no comprovado, nem se conformam com o rasteiro. Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado. Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões; quando ficamos cegos não percebemos isso, e deixamos que a oportunidade escape porque tivemos medo de dizer o difícil “sim”. O “não” é também um ponto cego por onde a gente escorre para o escuro da resignação. O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais poderá dizer “sim” para si mesmo. E aí tudo apaga. Mas com o “sim” as luzes se ascendem e tudo na vida faz sentido. Dizer “sim” pode ser mais difícil do que dizer “não” a uma pessoa amada: é sair da acomodação, pegar qualquer espada – que pode ser uma palavra, um gesto, ou uma transformação radical, que custe lágrimas e talvez sangue e sair da luta.
Dizer “sim” para o destino signifique acreditar que a gente merece algo parecido como crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se feliz. Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se a todos os riscos implicados, para finalmente assumir a vida. Fazer escolhas assinar embaixo, pagar os preços e não se lamentar demais é dizer sim à vida. Porque, ao perguntamos ao destino, num tímido murmúrio, ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: “SIM”. Lembre-se: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas um prisioneiro de suas consequências” (Pablo Neruda).