Tatiana Santos
O rapper itabirano Thiago SKP participou do filme ‘Vale?’, que foi exibido em Itabira no último dia 6 de setembro (sexta-feira), na Fundação Carlos Drummond de Andrade (FCCDA). O artista teve atuação no documentário com a produção da parte musical, intitulada ‘Quanto Vale’. A obra conta a visão de cinco artistas diante do rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019, no que é considerada a maior tragédia ambiental do Brasil.
De acordo com o itabirano, o documentário falou sobre o impacto da mineração, como a arte fica no meio disso e sobre a tragédia com a barragem. “E a gente rodou vários lugares, para agora chegar a Itabira, e finalizar onde foi o berço da mineradora”, destacou.
Segundo ele, trabalhar a trilha sonora do filme foi algo muito natural, e explicou todo o processo até chegar ao que foi apresentado na obra: “A ideia era ser um projeto. Então, a gente foi fazer um projeto educacional nas escolas também para entender como os jovens sentiam e viam a mineração aqui [em Itabira], deixando bem livre para eles aflorarem o que eles pensassem, levando-os para o teatro, para uma apresentação depois. E aí, dentro dessa criação que a gente estava, eu escrevia a música sem a pretensão de ser a trilha”, detalhou. Ou seja, quando surgiu a ideia do filme, a música já estava pronta.
A dor das famílias e um alerta
Para o artista, além de ser uma música que retrata a realidade de Brumadinho, a trilha representa a dor de muitas famílias que foram impactadas. Inclusive, a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum) participou do projeto.
Um dos objetivos do filme, segundo SKP, é alertar para que outras tragédias não aconteçam, além de mostrar que o ocorrido em Brumadinho não é mais uma ferida, mas uma cicatriz que deve ser mostrada para evitar feridas semelhantes. “Eu acho que o impacto do filme, além de mostrar ali a realidade, o impacto, como a arte lida com isso. O que a gente pode fazer disso através da arte. Então, cada um tem uma essência. Mas esse papel é de alertar, porque é da gente refletir”, descreveu.
Além disso, no caso de Itabira, que é berço da Vale, é muito relevante a participação da cidade no projeto, do qual Thiago diz se sentir muito honrado em representar a terra de Carlos Drummond de Andrade.
Um ano de trabalho
O período, desde que o itabirano entrou e viu a primeira versão, girou em torno de um ano. Mas o trabalho todo em si, para chegar ao que foi exibido no dia 6, acontece desde 2020. Naquele ano, os produtores entraram em contato com organizações de Itabira, que realizaram um estudo para colaborar com a equipe. A partir daí, nasceu o filme, gravado ao longo de um ano.
Nesse tempo, houve um intercâmbio da metodologia, de acordo com o rapper. Segundo ele, Lucas, que é o ator de Nova Lima, e que também participou do filme, veio para Itabira ensinar a arte. A artista Jana e o Rei, que é de comunidade quilombola em Mariana, também veio para Itabira agregar conhecimento. Thiago SKP fez o mesmo: “Eu fui para Brumadinho, eu atendi mais de 300 alunos. Então a gente fez uma troca”, contou.
Um dos diretores do filme é Paul Heritage. Ele é ativista cultural, atua como professor de teatro e performance na Queen Mary University of London. Além de Paul, Marcelo Barbosa é um dos diretores da obra. O pré-lançamento do documentário foi realizado em fevereiro de 2023. Este é o primeiro filme no Brasil que aborda a tragédia da ruptura da barragem em Brumadinho.