Marcos Gabiroba
UM BANHO DE SOL E UMA TEMPESTADE DE BONAÇA
Dias desses ao regressar de uma celebração dominical, encontrei um velho amigo que há tempos não nos víamos. Ao ver-me comentou: – resolvi dar um banho de sol na minha tristeza, no baixo astral que me tortura ultimamente. Sempre que passeio, respirando a plenos pulmões a brisa da manhã, eu entro em alfa, retorno a sorrir, reconciliando-me comigo mesmo e com a humanidade.
Belas palavras e curioso pensei: eu nunca pensara na possibilidade em tomar um banho de sol na minha vida, nem nas minhas preocupações, angústias, aborrecimentos do dia a dia, hora a hora. Nada é mais terapêutico e inteligente do que amanhecer de ânimo renovado, sereno e por que não, de alma lavada e espírito contente. Na verdade, e pensando bem, está enfermo e debilitado, quem perdeu o entusiasmo, o sorriso, a jovialidade, o bom humor e a alegria de viver. É tão melancólico e desalentador encontrar jovens e adultos de nau encalhada nas areias do pessimismo, da covardia, da indiferença, do “não vale a pena” continuar lutando e persistindo. Jesus Cristo quando passou pela terra como homem quis e foi solidário, generoso, liberto, um abnegado, um entusiasta e sempre sorridente, como nos lembra Paulo, seu apóstolo: alegre na esperança, paciente nas dificuldades e perseverante na oração”
Um banho diário de otimismo, à luz da fé, ilumina nossa peregrinação. Já pensou nisso caro ouvinte? Vence mais facilmente na vida quem cultiva um corpo sadio, uma mente sã, um espírito equilibrado e um coração nobre, aberto à esperança, enfunado pelas velas da alegria de viver.
Nesta crônica de hoje lembro-me de Irmã Clara no Colégio Nossa Senhora das Dores quando incitava-nos dizendo: Rezem para que eu não tenha grandes problemas, desafios difíceis. Os pequenos eu consigo administrar razoavelmente!
Gente obstáculos percalços e contrariedades, temos na rotina diária de qualquer pessoa. Seria mais confortável nossa frágil existência se eles não existissem? Talvez. Por outro lado, sem os rochedos… as ondas do mar não subiriam tão alto. Não é mesmo? Mas, com jeito de muro imbatível, a rocha joga as águas para cima, no instante da colisão, do embate. Que beleza a natureza oferece ao ser humano!
A nossa vida material encarada com serenidade, à luz do Evangelho, a dor não é tragédia, um desastre fatal. Onde há crise e desafios, existe vida. E a vida se faz luminosa, quando é banhada pela fé; quando embebida de esperança. A esperança nunca morre, principalmente, nos momentos em que tudo na nossa vida perece estar perdido e difícil. As trevas crescem, o desânimo nos abate. É no fundo do túnel que mais necessitamos da mão forte e misericordiosa de Deus, amigo certo das horas incertas, luz em nossos caminhos. Nascemos para vencer e não para sermos derrotados. A perseverança tudo alcança. Vitória sem luta, sem a cruz, é triunfo sem glória. Amigos e ouvintes, eu prefiro a tempestade, com Jesus, em Jesus, e por Jesus do que a bonança sem ele. P/nisso.
Eu conheci, na passagem desta vida, amigos que passaram noites e noites completamente insones, destroçados. Entraram firmes em negócios arriscados e terminaram perdendo fortunas, na suada economia de uma vida inteira. Depois, já refeitos dos baques que sofreram no comércio, filosofavam, entristecidos com seus botões: foi uma experiência terrível que não deseja a ninguém. Apesar disso, tenho algo para agradecer. Perdi dinheiro, mas ganhei experiência. O fundo do poço tem suas lições… A experiência ensina-nos a amadurecer e a abrir horizontes, alteando-se como escolas de amplas aprendizagens. Os grandes poetas, santos e literatos, os gênios da arte e da filosofia costumam ser pessoas que conheceram muito de perto a dor humana, os labirintos do sofrimento, as asperezas da cruz.
Mesmo com algum talento em botão, com pretensões literárias ou artísticas, a maioria dos jovens não revela profundidade, simplesmente porque lhes falta maturação nos bancos escolares da experiência-vida, das noites escuras e tempestuosas. Cristo nos redimiu no Calvário e não no Tabor da glória. A plenitude mora no alto da escada, no cume das montanhas, no fundo dos mistérios. Só podemos concordar com o poeta Heber Salvador de Lima quando nos assinala: “O sofrimento, na vida, tem a função de uma lente: toda pessoa sofrida vê tudo mais claramente”. Tenho algo mais a acrescentar? Até a próxima!
Ah! Ia me esquecendo: se minha mãe fosse viva estria completando hoje 121 anos de idade. Seja feliz minha inesquecível mãe na Glória celestial. Sua permanente presença continua viva no meu coração. Até um dia…