Tatiana Santos
O Brasil está envelhecendo. Em números, a perspectiva é de que haja um aumento de aproximadamente 9 milhões de idosos no país. Essa informação foi apontada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE, no final de 2023. O quantitativo de pessoas com 60 anos ou mais, em apenas 10 anos, passou de 11,3% para 14,7% da população.
Apesar do crescimento no número de pessoas mais velhas no Brasil, ainda existem diversos abusos praticados contra os idosos. Muitos têm seus direitos caçados até mesmo por familiares, de acordo com a advogada, assessora jurídica e pós-graduada em Direito Processual, que atua em Itabira, Amanda Machado.
No último dia 1º de outubro foi comemorado o Dia do Idoso, data que faz referência à criação do Estatuto do Idoso. A advogada salienta que apesar de tudo, a luta pelos direitos daqueles que têm idade avançada é importante. Isso, porque o Estatuto é relativamente novo, criado apenas em 2003. “Quando nós olhamos para trás, a gente fala, ‘nossa, parece um tempão’, mas não foi, foi ontem. E até lá, e antes disso, como é que era a situação dos idosos? Crítica. Nós não tínhamos como responsabilizar aquelas pessoas que negligenciavam, que judiavam dos nossos idosos, igual nós podemos fazer hoje”, disse. De 2003 para cá, tem havido um trabalho de conscientização maior.
Legislação
Segundo Dra. Amanda, existe a Lei 10.741/2003, que é hoje a Lei de Proteção à Pessoa Idosa. Ela adiantou que há projetos de leis em tramitação para apadrinhamento de idosos em instituições de longa permanência. Nesse caso, a pessoa interessada pode levá-lo para sua casa, com o objetivo de construir laços, participar de atividades culturais e recreativas e sentir-se parte integrante da comunidade.
Há também o Programa Melhor Idade (PMI), que tem o intuito de promover a qualidade de vida, incentivando a autonomia, a convivência social e o envelhecimento ativo e saudável. São oferecidas atividades físicas como a ginástica. “Isso é muito importante. Não limitem eles à idade. Você pode começar a qualquer momento fazendo o que você quiser”, salientou. A advogada ressaltou que acha interessante quando passa próximo à avenida Mauro Ribeiro e à Aposvale e vê idosos se exercitando, o que demonstra uma valorização da pessoa de mais idade. Para ela, isso se deve também ao Estatuto do Idoso.
Abusos de inúmeras maneiras
A advogada lembrou que em seu escritório já atendeu a casos de clientes em que o idoso era mantido em uma espécie de cativeiro, dentro do quarto, onde era colocada a alimentação para ele “de um jeito muito cruel”. A situação só foi descoberta por um familiar que foi o visitar. Dra. Amanda orienta que os vizinhos têm papel fundamental e que quando perceberem que o idoso não tem sido visto, deve-se perguntar por ele, e se forem detectados maus tratos, denunciar.
Ela ainda disse que existem aqueles filhos que são usuários de entorpecentes e usam o cartão do idoso para fazer compras, o submetendo a tratamento desumano. Muitos ficam sem dinheiro até mesmo para comprar seus medicamentos. Como muitos idosos confiam demais, por não terem tanto conhecimento, são passados para trás. Um exemplo é em agências bancárias, quando acabam pedindo ajuda a terceiros. “Então, aí eu vou chamar atenção para a importância dos familiares de confiança estarem juntos. Às vezes o idoso é aquele mais sistemático, gosta de fazer tudo sozinho. Tudo bem, mas que tenha um familiar sempre ao lado, um pouquinho distante, mas observando”, recomendou.
Cuidar e incluir
Ela argumentou que a palavra cuidar tem que ser contextualizada para um sentido geral, ou seja, não adianta dizer que cuida, mas cuidar deixando passar fome, sem tomar banho, é incluir o idoso na rotina das pessoas. Ao ser questionada sobre como incluí-lo no dia a dia, ela é enfática: “É trazer ele no meu contexto de vida. Não é eu deixar ele na cama assistindo uma televisão e entregar um celular na mão dele. Isso é cruel. Então o cuidar, o incluir é levar para passear, para um bom almoço em família, retribuir para ele tudo aquilo que ele fez para você”.
É dar a oportunidade de fazer atividades com ele, conversar, trazer memórias até mesmo se para evitar que ele tenha demência e sentimentos como solidão e sensação de desprezo. Fato é que os idosos contribuíram e têm contribuído para a sociedade, não somente com aprendizados e fatos de vida que talvez hoje em dia não se vê mais. “São pessoas que têm uma bagagem, uma experiência fantástica, a quem nós devemos respeitar a história”.