Tatiana Santos
As rodovias mineiras estão entre as seis das 10 mais perigosas e que mais tiveram mortes de novembro de 2022 até outubro do ano passado (2023). Foram 293 acidentes somente entre os KMs 480 e 490, foi o que mostrou a Confederação Nacional do Transporte (CNT), por meio de seu relatório anual. Atuando na linha de frente de várias dessas ocorrências nas estradas da região, a associação Anjos do Asfalto desempenha um importante papel.
O coordenador Geraldo Assis, explicou sobre como a organização surgiu e sua atuação no socorro às vítimas de acidentes. Segundo ele, a instituição surgiu há 18 anos, quando o presidente Marcos Campolina retornava de um curso em Itabira e deparou com um acidente durante o trajeto. Naquela ocasião, o atendimento oficial demorou muito a chegar ao local, e como ele já havia feito um curso de primeiros socorros, fez o atendimento às vítimas. Daí, criou o grupo de resgate voluntário.
O grupo conta atualmente com 32 socorristas voluntários, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem. Dentre eles, quatro são moradores de Itabira. E a entrada é bastante restrita, por atuar diretamente com salvamentos. “A maioria é por indicação. Os integrantes vão indicando outras pessoas”, resume o coordenador.
Dentre outros requisitos, os membros precisam ter curso de primeiros socorros, há ainda uma prova de seleção, teórica e prática. O candidato passa por um ano de estágio para avaliar o comportamento diante de acidentes e para ter certeza se é exatamente isso que almeja. A sede da associação se localiza em Belo Horizonte, mas os voluntários ficam concentrados no Restaurante Amigão, em Emboadas, entre os trechos de maior índice de acidentes na região, entre Caeté e Sabará (BR-381).
Os voluntários fazem a sinalização do local dos acidentes e realizam o primeiro atendimento até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros mais próximos. dentre as ocorrências mais tensas citadas por Geraldo estão aquelas onde há vulneráveis. “Geralmente quando tem criança envolvida ou idoso. É bem complicado para a gente atender essas situação. Mas geralmente, para quem é da área da saúde é mais tranquilo. Geralmente já trabalha no hospital, no João XXIII, por exemplo, enfim, em vários da região. Eles já têm uma experiência muito grande disso. Mas é complicado socorrer uma criança”, relata.
Brumadinho
O grupo não limita a atendimentos em rodovias. Geraldo relembra a participação do Anjos do Asfalto no socorro às vítimas da tragédia em Brumadinho, quando houve o rompimento da barragem da Vale em 25 de janeiro de 2019. Ele e sua equipe também atuaram em Manaus, quando precisaram levar oxigênio ao estado. Para ele, essas situações foram mais desafiadoras de administrar do que os acidentes em rodovias, por se tratara de ocorrências de maior porte e que envolvia muitas vítimas.
Perigos
Pela experiência de Geraldo em atendimentos nas rodovias, ele afirma que os trechos não duplicados são os mais perigosos, onde a quantidade de colisões frontais são mais predominantes, o que leva a maiores danos. O socorrista cita alguns desses trechos que exigem mais cuidados por parte dos motoristas: em Sabará, da ponte sobre o Rio das Velhas até o trecho de Caeté. Nos trechos duplicados, quando há acidentes, as colisões geram menores impactos.
Recursos financeiros
Todos os gastos eram bancados com recursos próprios dos voluntários. Mas atualmente, recebem apoio, o que ajuda no trabalho da associação. A entidade também tem duas viaturas equipadas com itens necessários aos socorros: “No decorrer dos anos, ganhamos uma certa credibilidade, diante da sociedade, e hoje, algumas empresas nos ajudam, nos patrocinam. E geralmente as pessoas que passam ou são atendidas nas ocorrências, elas levam também material de consumo, tudo que a gente usa no acidente para repor nosso material”. Ele menciona ainda prefeitura de Taquaraçu de Minas, que apoia com a doação de combustíveis.