Segundo pai da pequena Alice, de 2 meses, Estado anunciou leito em Patos de Minas; transferência seria às 7h, mas, até 10h, criança seguia em UPA
Segue esperando transferência para um hospital, na manhã desta quinta-feira (8 de maio), a pequena Alice, de 2 meses, que está internada há 8 dias na UPA Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, com um quadro grave de bronquiolite – doença respiratória que afeta crianças pequenas. Segundo a família da menina, o governo de Minas chegou a anunciar na tarde de quarta-feira (7) que teria conseguido uma vaga, prometendo que a transferência aconteceria até as 7h desta quinta. Porém, até as 10h, a criança seguia aguardando na unidade de saúde da Grande BH.
O TEMPO conversou com o pai de Alice, Rafael Souza Figueira, de 23 anos, que confirmou que o Estado teria anunciado a vaga em um hospital de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, em uma reunião promovida na UPA na tarde de quarta. “Primeiro disseram que ela sairia em 50 minutos, após prepararem os documentos e tudo mais. Isso era por volta das 16h. Deu 17h, 18h e não saíram, falaram que faltava transporte e que não seria bom fazer isso de noite. A gente aceitou tranquilo, porque tinha surgido a vaga, não é? Falaram que sairia hoje (quinta) antes das 7h. Chegamos cedo e, até agora, nada”, lamentou.
Após questionarem o porquê da demora, a família foi informada então que estaria faltando um helicóptero para fazer o transporte aéreo de Alice para a cidade do interior de Minas. “Primeiro disseram que não estavam achando o helicóptero, depois que tem outras duas crianças que estão na frente da minha filha. Toda hora aumenta uma coisa, parece que cada vez mais sai do controle. Está tudo pronto para a transferência, a papelada”, completa o pai da criança.
Por volta das 10h30, o pai recebeu uma informação não oficial de que teria surgido uma vaga no Hospital João Paulo II, em Belo Horizonte, porém, a família segue sem ter certeza sobre a transferência. Sem esconder a frustração, Figueira diz que ele e a esposa estão “no limite”. “Não aguentamos mais, a gente está há dias no hospital. Você não consegue trabalhar, não consegue comer direito. Não é fácil ver sua filha assim, dentro daqueles tubos. A sensação é que a gente não consegue fazer nada por ela”, diz, emocionado, o pai.
Uma internação a cada 6 minutos
Em 2025, os hospitais de Minas Gerais registraram cerca de 241 internações por dia pela chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — total de 29.723. O número equivale a cerca de 10 pessoas — em especial crianças pequenas e idosos — ocupando um leito por hora ou uma a cada seis minutos. Diante do aumento expressivo dos casos, o governo de Minas decretou, na última sexta-feira (2 de maio), situação de emergência. Porém, passados cinco dias desde a medida adotada, nesta quarta-feira (7) pelo menos dois bebês lutavam por suas vidas enquanto aguardavam a liberação de vagas em leitos no Estado.
Conforme o “Painel de Internações por Síndromes Respiratórias”, atualizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), até agora em 2025 foram registradas 29.723 internações, contra 28.409 no mesmo período do ano passado, um aumento de 4,6%.
Até agora, Minas já registrou 438 mortes pela doença, sendo uma delas a de uma menina de apenas 1 ano, que, após três dias internada em um hospital de Pedro Leopoldo, não resistiu e acabou morrendo enquanto aguardava uma vaga em um hospital. O infectologista Leandro Curi explica que a SRAG é caracterizada pelo sintoma de falta de ar, que é desencadeado por uma série de infecções, principalmente por vírus respiratórios, como a própria Influenza (gripe) e o Covid.
“Nas crianças pequenas, até mesmo o vírus do resfriado pode desencadear a infecção nos brônquios, que é conhecida como bronquiolite e que é muito grave. A SRAG surge principalmente nesta época do ano, quando esfria um pouco. A temperatura cai e, principalmente os pequenos e os mais velhos, que têm a imunidade mais baixa, são os que mais sofrem”, detalha.
Para o infectologista Leandro Curi, a falta de leitos hospitalares para casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave) é um problema crônico no Brasil, que se intensifica em períodos de alta de infecções respiratórias. “Em alguns anos, esse aumento ocorre de forma mais brusca, pelo excesso de contaminação. É o irmãozinho que contamina o outro, o coleguinha de escola, às vezes os próprios pais. Então, os vírus circulam entre nós e a gente tende a espalhar mais rápido, virando um surto”, completa Curi.
Como prevenir a SRAG?
Pessoas que convivem com crianças, idosos ou indivíduos com imunidade comprometida devem adotar medidas para reduzir o risco de infecção por vírus respiratórios. Curi destaca que a vacinação contra a gripe e a Covid é essencial, já que esses vírus estão entre os principais causadores da SRAG. “Às vezes, a descrença dos pais, geralmente infundada, deixa a criança desprotegida e podendo sofrer um caso mais grave”, alerta.
Além das vacinas, práticas de higiene respiratória são fundamentais para prevenir a disseminação dos vírus. “Higienizar as mãos com regularidade, manter o ambiente ventilado, por exemplo, são medidas muito eficientes. Se alguém em casa estiver com sintomas gripais, é bom evitar ficar perto dela sem máscara. Sempre falo também para as pessoas evitarem visitar crianças recém-nascidas sem máscara nessa época, pois, um simples resfriado, pode ser muito grave para ela”, orienta o infectologista.
Curi também reforça os cuidados que ganharam notoriedade durante a pandemia de Covid-19, como o uso de álcool em gel, o hábito de cobrir o rosto com o antebraço ao tossir ou espirrar, e o uso de máscaras ao apresentar sintomas gripais.
FONTE: OTEMPO