Bloco do Cemitério desfila muita vida e resgata Rita Lee pelas ruas de Itabira
Tatiana Santos “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”. Não parece, mas é, sim, o nome de um bloco carnavalesco de Itabira. Conhecido como ‘bloco do Cemitério’, a agremiação reuniu seus integrantes e foliões em busca de diversão em um esquenta, ou seja, o Pré-Carnaval de Itabira, na última sexta-feira (2). A folia aconteceu na rua Paulo Pereira, bairro Pará, como sugere o apelido do bloco, exatamente em frente o cemitério do Cruzeiro. Houve um cortejo pelas ruas do Centro da cidade até a praça da Eemza, regado a muita música, dança e diversão. Os ensaios aconteceram desde junho do ano passado na pracinha do Pará, às quartas-feiras. Mas, como surgiu o bloco, que ao invés de assustar, celebra a vida através desta festa tradicional? Quem explica é um dos fundadores, o professor de História, Joaquim Olegário. Conforme esclarece, por mais estranho que possa parecer, o nome deriva de uma perspectiva paradoxal, ou seja, o contrário a uma visão de óbito. “A gente utiliza a ideia da morte para celebrar vida, lembrar que a gente está vivo, lembrar que a gente está carnavalizando, buscando alegria, saúde, que é importantíssimo também, mas sem perder o foco”, disse, em entrevista ao programa Conexão Regional, da rádio Pontal. Os festejos, como Olegário deixa claro, não são realizados nas dependências do cemitério. O carnavalesco ressalta ainda que o objetivo do bloco é homenagear artistas que tiveram significado na música popular brasileira, mas que já se foram. Este ano, a homenageada é a rockeira Rita Lee, que morreu no ano passado, vítima de um câncer no pulmão. Já foram lembrados pelo bloco os cantores Bob Marley (2018), Wando (2019), Beth Carvalho (2020), Morais Moreira (2021), Clementina de Jesus (2022) e Gal costa (2023). Criação do bloco Criado em 2018 por Joaquim e pelo também professor Adolpho de Melo Marques, a intenção é ressignificar o cemitério, que é um espaço de dor e sofrimento, trazendo irreverência, sem portanto, debochar do luto. O bloco iniciou com um grupo de aproximadamente 30 amigos, que foram para a porta do cemitério do Cruzeiro beber cerveja, batucar e festejar o Carnaval. “Foi uma junção de fatores. O Joaquim, que tinha essa perspectiva de pensar uma questão mesmo vinculada à História quando a gente trabalha essa ideia de memória, e o Adolpho, como professor de música e também de História, de fazer essa regência do nosso corpo de percussão. Fez esse casamento dos nossos projetos, e nasceu o bloco”, explica. Participação massiva Entre os instrumentistas, a organização contabiliza 65 músicos, sendo 80 membros fixos, com expectativa de mais de 150 pessoas (somente os que já compraram as camisas com o tema deste ano/abadás). A produtora Kênia Pereira, que também participou do Conexão Regional, destacou: “O Adolpho e o Juá [Joaquim] vêm fazendo essa revolução mesmo através dessa brincadeira, que é o bloco do Cemitério. O bloco hoje é um instrumento de educação social, pois a gente traz pautas importantes, que são discutidas em conjunto”. Segundo ela, há uma contrapartida para a sociedade, com o ensino de instrumentos, especialmente para crianças, por meio de oficinas em escolas públicas de Itabira, onde também é contada a história da cultura afro-brasileira. Ainda há a descentralização da cultura popular, expandindo para os bairros e periferias da cidade, foi o que salientou Kênia. Há cooperação e intercâmbio entre os mais de 10 blocos oficiais de Itabira, em que os integrantes participam dos ensaios dos demais, emprestam instrumentos. “A gente tem sempre um diálogo muito importante. Inclusive, muita gente que participa do nosso, a gente também participa de outros blocos”, informou Joaquim.
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