Tatiana Santos
Fazer o bem sem olhar a quem. Esse ditado expressa um pouco da vida da itabirana Rita de Cássia Fernandes Ferreira. Ela, que é uma doadora de sangue frequente desde 2008, comemorou sua 30ª doação desde que começou, há 16 anos atrás. Conforme explica, cada bolsa com o material vai para quatro pacientes. Ou seja, ela já ajudou a salvar a vida de 120 pessoas.
Esse desejo de fazer o bem ao próximo surgiu quando a mãe estava internada em um hospital em Itabira, foi diagnosticada com anemia falciforme e a unidade de saúde pediu que a família fizesse a reposição do sangue que ela havia utilizado. Na época, uma equipe vinha de Belo Horizonte apenas uma vez no ano, e fazia um mutirão de doação, no atual Centro de Reabilitação. “Então, eu decidi fazer essa doação. A minha experiência foi fantástica ali, e daí eu não parei mais”, relembra a voluntária.
Sempre que podia, dentro do limite de três doações ao ano para mulheres, Rita se deslocava para Belo Horizonte para fazer a boa ação. Depois, ela conheceu pessoas ligadas à Aposvale, que realizava esse trabalho aos sábados, e mais voluntários abraçaram a causa.
E ela não recuou diante das adversidades, como muitos fazem. “Porque muitas pessoas desistem. Seu parente falece ali, as pessoas traumatizam, elas não querem mais, infelizmente, nem saber de doação de sangue. Mas vêm outras pessoas para poderem abrir as portas para quem precisa”, diz, aliviada.
Influenciando para o bem
Durante esses 16 anos de engajamento, a voluntária conta que conseguiu quebrar a resistência de muita gente, que por medo, ou outras situações, não queriam doar sangue, mas passaram a integrar a causa. Inclusive, ela conta que já foi criticada por fazer postagens em suas redes sociais buscando engajar a causa.
Mas Rita ressalta que por vezes, por falta de apoio de amigos, vizinhos e até parentes, muitas pessoas precisam recorrer a desconhecidos quando deparam com alguma situação de familiares que precisam do sangue.
Além da mãe, Rita comenta que quando o irmão teve leucemia, na época, ela teve que ir em busca de doação, aprender tudo sozinha. “A gente foi conectando outras pessoas ali para nos ajudar. Então, o que eu aprendi com isso tudo? Eu vou ajudar todo mundo que tem algum trabalho social, que gosta. E eu decidi optar pela doação de sangue, que é algo muito necessário, muito nobre. Não é qualquer pessoa que aceita fazer isso”, determinou Rita, há tempos atrás.
Acidentados como prioridade
Com o período final do ano, estamos chegando em uma fase muito crítica, quando há menos doações de sangue e os estoques ficam em baixa. Há ainda o agravante de muitos acidentes e outras emergências. Existe um aumento das brigas com ferimentos por arma de fogo no período festivo, quando algumas pessoas acabam bebendo além da conta e perdendo a calma. Ao chegarem aos hospitais, esses casos de urgência são os prioritários, e não os pacientes que já estão internados para transplante de medula, por exemplo.
Rita esclarece o motivo: “Essas pessoas são em primeiro lugar. Por que? O ferimento está aberto, a pessoa está precisando de reposição, precisa da bolsa pronta. E às vezes, essa bolsa não tem. Por que não tem? Porque as pessoas ainda não estão doando sangue”, lamenta.
Itabira bem guarnecida
Por fim, a voluntária acredita que do tempo em que iniciou na causa para hoje em dia, os moradores de Itabira e região têm mais facilidade para se voluntariar, com a importante atuação do Grupo Doe Vida, que além de atuar com campanhas e incentivo, ainda levam doadores aos hemocentros em Belo Horizonte, se preocupando até com o lanche dos voluntários. Outro facilitador foi implantação do Posto Avançado de Coleta Externa (Pace), no Hospital Municipal Carlos Chagas.
Sobre a importância de salvar vidas, Rita diz que não conseguiria descrever, tamanha sua satisfação com a nobreza do ato: “Eu não consigo mensurar em palavras. É somente você fazer a experiência de passar todo o processo. Na hora que você termina e vê aquela bolsa enchendo de sangue, sabendo que aquela bolsa vai salvar quatro vidas, é algo transcendental. Só quem faz a experiência sabe”, encerra a itabirana.