Donald Trump afirmou, em seu discurso de posse como presidente dos Estados Unidos, que pretende ser “um unificador e pacificador” no Oriente Médio. O republicano de 78 anos começou o mandato um dia depois do início do cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que prevê a libertação de 33 reféns israelenses e 1.900 prisioneiros palestinos.
Durante as negociações, assessores de Trump trabalharam com a equipe diplomática de Joe Biden, ao lado de negociadores do Catar e Egito. Contudo, os próximos capítulos do cessar-fogo devem trazer dificuldades à nova administração, especialmente no detalhamento do “fim permanente da guerra”, nas palavras de Biden.
Primeiro mandato de Trump
Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2020), o Departamento de Estado dos EUA adotou uma série de medidas diplomáticas pró-Israel. As ações de maior destaque do republicano incluíram o reconhecimento de Jerusalém como a capital do país e a mudança da embaixada americana em Tel-Aviv.
O governo de Trump também assumiu posição linha-dura em relação ao Irã ao se retirar do acordo nuclear, aumentar as sanções contra o país e executar o general Qasem Soleimani, o mais poderoso comandante militar iraniano.
Ao final do primeiro mandato, em setembro de 2020, Trump intermediou os Acordos de Abraão — instrumento criado para normalizar os laços diplomáticos entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos.
Na última quarta-feira (15), Trump disse que aproveitará o impulso do cessar-fogo para expandir esses acordos.
Para o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas, Danny Zahreddine, a ação de política externa mais importante do primeiro mandato de Trump para o Oriente Médio foi a concretização dos acordos firmados entre árabes e israelenses.
Contudo, ele completa que os desdobramentos geopolíticos e o mandato de Biden mudaram a rota da influência norte-americana.
O que mudou agora?
“Após a entrada do presidente Biden, as relações do governo americano com o Oriente Médio se deterioraram profundamente em razão da mudança dos interesses dos Estados Unidos e do foco da política externa americana. O Oriente Médio hoje, momento em que o presidente Trump assume seu segundo mandato, é muito diferente daquele tempo em que ele foi presidente no seu primeiro mandato”, afirma Zahreddine.
O especialista afirma que as principais mudanças vieram com os conflitos entre Rússia e Ucrânia, o colapso da ditadura síria de Bashar al-Assad e o enfraquecimento dos grupos terroristas apoiados pelo Irã, como Hamas e Hezbollah.
Esse “contexto diferente”, segundo Zahreddine, fará com que Trump priorize uma relação mais próxima com a Arábia Saudita e outros países do golfo Pérsico.
Essa aproximação tenta reforçar o principal foco da política externa trumpista, que é lidar com a influência da China na região.
“Chineses e russos vêm avançado fortemente no Oriente Médio, e isso é um problema real para política externa americana. Logo, a política do presidente Trump de aproximação com a Arábia Saudita, na busca da normalização das relações com Israel, aparece no topo da agenda da política externa americana. Seria como se fosse um segundo momento dos Acordos de Abraão”, diz Zahreddine.
Mediado pelos norte-americanos, o futuro das relações entre Israel e os países árabes dependerá integralmente das próximas decisões do governo de Benjamin Netanyahu, premiê israelense, frente à questão do Estado Palestino.
“Quando a gente imagina que Israel havia quase chegado ao ponto de normalizar suas relações com a Arábia Saudita, muito pressionado pelo governo Biden, isso vai por água abaixo com os ataques do dia 7 de outubro. Então, por um lado, a política de estabelecer relações entre Israel e o mundo árabe é uma estratégia de estabilização regional. No entanto, o principal foco, ou ponto de observação para avaliar se isso realmente funcionará, será a normalização da relação entre Israel e palestinos.”
Divisão de influência
Zahreddine afirma que estamos testemunhando um momento de redistribuição do poder mundial.
“Foi justamente o envio do representante do presidente eleito Donald Trump para o Oriente Médio, que resultou na aceitação do cessar-fogo por parte dos israelenses. Uma proposta quase idêntica à de maio de 2024 foi aceita agora. E por que foi aceita agora? Por duas razões: primeiro, porque há um ambiente regional diferente, mais favorável a Israel, mas principalmente em razão do poder político do presidente Trump, que vai pressionar Netanyahu a aceitar um cessar-fogo. Então, isso revela que o novo governo americano possui capacidade de estabilização de determinados quadros políticos regionais do mundo”, conclui o professor.
R7