Tatiana Santos
A Sexta-feira Santa marca um momento muito importante para os cristãos: a paixão e morte de Jesus Cristo. E para lembrar este evento tão relevante, a comunidade da Vila Amélia, em Itabira, realizará a encenação tradicional do quadro vivo. Os espectadores poderão acompanhar o teatro na próxima sexta-feira (29), às 19h, no adro da Igreja Nossa Senhora de Fátima, no bairro Vila Amélia.
Com uma tradição de 54 anos em Itabira, o evento conta com pessoas voluntárias da comunidade e de outros bairros, que se revezam em funções como atores/atrizes amadores, maquiadores, diretores, contra-regra, cenógrafos e diversos outras atuações. O repórter Galvani Silva, da rádio Pontal, conversou com integrantes da comunidade, que se voluntariam todos os anos para realizar o evento. Sãozinha, Dulce e Paulão têm atuação importante junto à comunidade e falarão sobre suas participações no teatro.
Galvani: Vamos começar com a Sãozinha, que é responsável pelo teatro, não é isso, Sãozinha?
Sim, Galvani. A gente tem esse compromisso, que ele foi fundado em 1970 pelo padre Ivani e um grupo de jovens da época, que chamava JTC. E graças a esse trabalho desse jovem, nós estamos aqui há 54 anos evangelizando e catequizando.
Galvani: Que legal! A Dulce faz uma participação. Qual participação é essa, Dulce?
Eu faço a participação da escrava de Barrabás, escrava de Pilatos. Eu fiz ano passado, fui a primeira vez e esse ano estou aqui, firme e forte, para fazer de novo.
O que significa para você fazer esse papel em uma encenação tão importante? A responsabilidade é grande, não é?
Ah, com certeza, viu? Dá um nervosismo, e o bom que a gente está por dentro de tudo, por detrás. Que eu sempre vinha poder assistir, e hoje, quem quiser, também pode estar vindo para o teatro participar. É muito bom, é uma emoção muito boa.
Paulão faz o barrabás. Explica para a gente o seu papel
Eu faço parte do Barrabás, faz uns 4, 5 anos. Faço parte do soldado também. Estou aqui ajudando com as pessoas maravilhosas do grupo que entraram junto com o padre Ivani. Eu comecei depois, mas já estou há muitos anos também dando uma força e queria estar convidando o pessoal de Itabira, região para estar vindo participar aqui, ver o teatro dia 29. E quem também quiser participar, nós também estamos precisando de pessoas. A porta está sempre aberta. É da igreja e a porta é a Sãozinha. Pode estar conversando com ela e com Piedade. Eu queria agradecer ao Galvani, à Elisa, ao Ralph e ao Gabiroba (Marcos Evangelista Alves) e a todo o pessoal da Pontal, dando-nos apoio. Muito obrigado.
Paulão, qual é o principal papel de Barrabás nessa encenação? Conta para a gente
A alucinação do Barrabás é tentar ser liberado pelo povo judeu e julgar Jesus, porque eu já fui uma pessoa muito ruim nessa peça. Então o povo me liberta e manda crucificar Jesus. Aí eu já saio, já dou uma risada para Jesus e saio correndo e entro no meio da multidão e crucifico Jesus. Depois deixaram o Barrabás livre e crucificaram Jesus.
Sãozinha, você faz parte e também preside essa questão do teatro na comunidade, mas você tem algum outro tipo de participação?
Eu sou professora de dança do ventre e bailarina também. Esse ano nós estamos novamente subindo o palco para dançar para o Herodes. Porque Herodes era um homem de festa, de farra. Ele não queria saber se Jesus estava na cidade ou que estava comemorando com Jesus. Tanto é que ele manda de novo para o Pilatos, que ele não quer o compromisso. Jogou a responsabilidade toda para Pilatos julgar Jesus, porque ele estava de passagem, então não cabia a ele julgar. Aí ambas as bailarinas dançam para ele. Ele toma lá seu vinho, aquela farra. E é assim que acontece. Se fosse nos dias de hoje, a gente poderia chamar o Herodes de ‘o homem da noite’, com certeza.
Sãozinha, o que significa para a comunidade esse evento? Você como uma pessoa que é líder comunitária, queria que você falasse do significado dessa participação da igreja em frente à comunidade.
Isso engrandece muito a comunidade, porque há 54 anos eleva o nome do bairro. Isso cresce muito. A cada ano que participamos, recebemos muita gente de fora, são muitos elogios da imprensa, de quem vem assistir, e a participação da comunidade é fundamental para um evento como esse. Parece-me que há pessoas aqui que já participam há 30, 40 anos como membros do grupo. Nós temos o Antônio Zeferino, que é um dos criadores, que escreveu uma peça junto com o Ivani, que sempre fez o papel do Caifás. Tem a minha tia Perpétuo, que foi presidente, diretora, que continua lá à frente fazendo a maquiagem no Jesus, no Mau Ladrão. Tem o Ivani, mesmo esse ano ele não está presente, atua com a gente, tem a Piedade que viu o quadro crescer. Eu, pequenininha, já acompanhava, gritando, e hoje estou à frente do teatro. E tem os moradores, que se envolvem do jeito que podem. Isso é muito importante. Aproveitar e mandar um abraço para alguns moradores aqui que eu conheço, que é a Célia, a Gislene, o Gilinho. Meu amigo Robert. O Robert, nossa, um amor de pessoa. A sua esposa Ana Flávia, o pessoal daqui da comunidade. E eu lembro muito do seu Guilherme. Guilherme, nossa, uma pessoa que faz muita falta. É, seu Guilherme era o homem do leite. Sempre que eu falo da Vila Amélia, eu lembro do seu Guilherme, que é uma pessoa que eu conheci na década de 1990. Infelizmente, não está entre a gente, mas era um dos moradores mais antigos. A minha mãe, Maria Geraldo, que na barraquinha você chegava, tinha um tropeiro, um pastel, um feijãozinho, a canjica nas quadrilhas. E o Sô Guilherme é uma pessoa que deixou muita, muita saudade mesmo, com suas piadas, com suas histórias.
Sãozinha, muito obrigado por me receber aqui e só reforçar, dia 29
Se Deus quiser, às 19h, estaremos com todos os participantes aqui, levando para vocês a vida de Jesus. Não vou contar história, porque Jesus não é história. O que Ele deixou é para a gente seguir e honrar tudo aquilo que Ele nos passou. Então, eu convido a todos, às 19h, aqui do lado da igreja, se Deus quiser.