A cultura brasileira está de luto. Morreu aos 80 anos, na madrugada deste sábado (11/5), em Montes Claros, no Norte de Minas, o compositor, cantor e escritor Téo Azevedo, considerado uma das maiores expressões da cultura popular do pais.
Ele tem mais de 2,5 mil músicas gravadas, cerca de 3 mil trabalhos e 1 mil histórias de cordel escritas, além de 12 livros lançados. Téo também se notabilizou pela luta em defesa da “música de raiz” e da natureza, tendo levantando a voz pela preservação do pequizeiro, o fruto símbolo do Cerrado.
O artista estava internado no Hospital Dilson Godinho e morreu em decorrência de uma encefalite (inflamação no cérebro), segundo a família. O corpo será velado no Memorial da Santa Casa de Montes Claros, de 12 às 15 horas deste sábado.
Em seguida, o corpo será traslado para o Distrito de Alto Belo, no município de Bocaiuva (na mesma região), terra do compositor, onde será sepultado ás 16 horas de amanhã, no Memorial Téo Azevedo.
Ele é considerado o compositor brasileiro com maior quantidade de músicas gravadas. Entre os cantores que gravaram as suas criações estão Sérgio Reis, Milionário & José Rico, Zé Ramalho, Genival Lacerda, Zeca Pagodinho, Jair Rodrigues, Pena Branca & Xavantinho, Tonico & Tinoco, Caju & Castanha e dupla Cristian & Ralf.
Além de construir a própria trajetória, Téo produziu dezenas de discos e levou aos estúdios de gravação centenas de cantores e compositores. Conviveu e firmou parcerias com Sérgio Reis, Zé Ramalho e Luiz Gonzaga, entre outros. Em 2013, ganhou o cobiçado prêmio Grammy Latino com “Salve Gonzagão – 100 anos”, na categoria melhor álbum de raiz.
Em 1997, graças ao produtor e músico americano Michael Grossman, que conheceu quando fazia um programa na Rádio Atual, em São Paulo, Téo se aproximou de Bobby Keys, saxofonista da banda Rolling Stones.
O mineiro fez uma composição em homenagem ao saxofonista, “For Bobby Keys (Music and life)”, que entrou em um disco de Keys, em versão de Michael Grossman. A gravação foi patrocinada por Ronnie Wood, guitarrista dos Stones.
“Uma perda imensa para a cultura brasileira e mineira”, afirma o Violeiro, compositor e cantador mineiro Chico Lobo, de quem Téo Azevedo era grande amigo. “Fui pego de surpresa pela notícia. Sempre foi uma referência para a minha carreira”, afirma.
“Desde os anos 1980, quando cheguei em Belo Horizonte e pude assistir às suas apresentações, me tornei amigo e pude ir aos encontros que ele realizava de folias de Alto Belo, sua terra natal. Pude levá-lo várias vezes no meu programa. Foi responsável por lançar vários artistas e trabalhos diferentes. Descobriu Zé Coco do Riachão. É uma perda muito grande, mas que tem certeza da missão que foi cumprida com muita força e muita resistência. A música dele é eterna em nossos corações”, descreve Lobo.
O compositor Tino Gomes, também mineiro (de Montes Claros), foi outro que lamentou a morte de Téo Azevedo. “Hoje partiu para os planos celestiais, no toque da viola, um dos maiores defensores da cultura popular desse pais, ao qual nos todos devemos reverenciar: Téo Azevedo. Ele foi um lutador pela nossa cultura, nosso povo catrumano”, declarou Tino Gomes.
“Téo produziu mais de 500 discos, inclusive o meu. Ele produziu mais de mil livretos de literatura de cordel. (Foi) um poeta e batalhador incansável da nossa cultura. A cultura popular do Brasil fica entristecida, fica mais pobre com a perda desse grande amigo, desse parceiro, com quem eu tive a honra de dividir uma musica só em 50 anos de amizade, que é ‘Meu Jeito Catrumano’. Téo Azevedo deixa um legado imenso para essa geração que, por vezes, não sabe nem o que é o que gente está falando da cultura popular, devido a grande mídia não propagá-la tanta”, afirmou o cantor e compositor.
“Saiba, Téo, que nós continuaremos aqui firmes, resistindo trincheirados pela resistência da cultura popular desse pais. A luta continua. Um beijo meu querido, que Deus te receba na paz e na luz”, declarou Tino Gomes.
Doutor Honoris Causa
A Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) divulgou nota de pesar pelo falecimento do cantor, compositor e escritor Téo Azevedo. Na nota, a Unimontes lembra que por meio da Resolução do seu Conselho Universitário, assinada e publicada em 26 de julho do ano passado, foi aprovada a concessão do Título de Doutor Honoris Causa da instituição a Téo Azevedo “pelo seu valioso trabalho em prol da valorização e difusão da cultura, da arte e do conhecimento, especialmente, das nossas tradições, como a Folia de Reis”.
O governador Romeu Zema lamentou a morte de Téo Azevedo. Nota oficial diz que “o Governo de Minas se solidariza com familiares, amigos e admiradores de Téo Azevedo.”
A Prefeitura de Montes Claros também divulgou nota, lamentando a morte do compositor, ícone da cultura popular. “A Prefeitura de Montes Claros solidariza com a família do cantador e compositor Teo Azevedo. Emudece neste 11 de maio, aquele que dedilhava a viola e era considerado um defensor das últimas trincheiras da cultura popular de resistência do Brasil com “s” que tinha o costume de falar. Téo Azevedo era considerado um Menestrel Sertanejo que, por meio da sua arte, espraiou a cultura norte-mineira por este mundo afora, em milhares de canções e dezenas de livros”, diz o texto.