Há pelo menos sete anos a aposentada Maria Júlia Foratinni, de 71 anos, dedica parte do seu dia para levar comida, água e muito carinho para cerca de 18 gatinhos que viviam em um lote ao lado de sua casa, na rua das Canárias, no bairro Santa Amélia, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Porém, desde o último final de semana, a rotina de cuidado da idosa se transformou em momentos de angústia, após oito dos animais aparecerem mortos sem razão aparente.
“Venho tratando desses gatinhos que estão no lote há sete anos. Vou lá de tarde e coloco ração, água, troco as vasilhas. Enfim, é o tratamento que eu posso dar para eles. Mas vinha ocorrendo muita discordância por eu estar colocando a comida, vizinhos falando que eles sobem nos telhados e quebram as telhas, da sujeira. E aí, na segunda-feira (20), eles começaram a aparecer mortos”, lembra a idosa, que acredita que, dentro do lote, existam outros animais mortos, por conta do mau cheiro que emana do local.
“O mato está alto, a gente não consegue entrar lá para ver se tem mais gatinhos mortos”, continua Maria Júlia, antes de pedir para encerrar a entrevista por estar “muito nervosa” com a situação. “Eu fiquei muito chateada, chorei muito. Mas ainda tem gato vivo lá dentro, hoje mesmo eu já fui lá, botei comida”, disse a aposentada antes de passar o telefone para o filho, o comerciante Magno Foratinni, de 50 anos.

O homem conta que a colônia de gatos surgiu após uma moradora do condomínio onde vive sua mãe ir embora e abandonar diversos animais. “Minha mãe começou a cuidar e, com o tempo, foram aparecendo outros. A gente gasta um saco de 20 kg de ração por semana, castramos na medida do possível, tudo por conta própria. Colocamos umas casinhas também lá no lote, pra protegê-los do tempo”, detalha.
Após o ocorrido, o grupo de moradores que ajuda a cuidar dos felinos espalhou cartazes pelo bairro denunciando a matança, com o objetivo de avisar outros moradores cujos gatos não ficam presos em casa. Segundo os vizinhos, nesta sexta-feira (24 de janeiro), será registrado um Boletim de Ocorrência pelo crime de maus-tratos aos animais, que tem pena de até 5 anos de prisão.
Crime tem pena de 5 anos de prisão
Aprovada em setembro de 2020, a lei 14.064, do deputado federal Fred Costa (PRD), endureceu as penas para quem praticar violência contra cães e gatos.
A partir da nova legislação, a pena para maus-tratos aos animais aumentou de 3 meses a 1 ano de detenção (que podia ser cumprida em regime aberto ou semiaberto) para 2 a 5 anos de cadeia, em regime fechado, além de multa e perda da guarda do animal.
Caso o crime resulte em morte, a pena ainda pode ser aumentada em até 1/3. Antes, os crimes eram considerados de menor potencial ofensivo.
Para o criador da Lei Sansão, Fred Costa, a mudança foi o “maior avanço na luta pelo bem-estar animal”. “A lei é uma quebra de paradigma entre impunidade e lei exemplar para bandido covarde que comete crime contra animais. Antes, não havia a possibilidade de ser preso em flagrante, e agora só tem a opção de responder em liberdade por audiência de custódia”, afirma.
Fonte: O Tempo