Tatiana Santos
Uma das estratégias para a conquista de espaços por mulheres negras é o apoio e a auto aceitação. Para isso foi criado em Itabira o coletivo Box da Nêga, idealizado por Glauce Leite, itabirana engajada na causa das mulheres pretas. Foi fundado para ser um espaço de representatividade e pertencimento. De acordo com a fundadora, “é um lugar para a mulher negra existir e também para aquela mulher que se identifica com a cultura”.
O coletivo realiza um trabalho que envolve vendas de acessórios, como brincos e turbantes, conscientização através de conteúdo, de reuniões realizadas com parceiras, de encontros, tudo com o objetivo de abordar a importância da autoestima, romper barreiras e trazer valorização à mulher negra. “É realmente o resgate mesmo desse valor. E fazer com que ela entenda que os acessórios são uma forma de usar e entendê-la nesse espaço, nesse lugar, e fazer com que, através disso, conecte com outras mulheres para entender o nosso orgulho, a nossa história, através desses acessórios”.
Há um box onde os expositores parceiras ficam em cada espaço. Ali, as mulheres vão para se embelezar, fazer tranças, tratamento no cabelo, até mesmo vender/comprar roupas, pois também há lojistas. Há um impacto muito grande na vida de quem adquire o que Glauce chama de munições de poder, que são os acessórios do box. “É estrondoso, sabe? Eu falo que cada depoimento que a gente ouve de uma nêga que chega para comprar um brinco ou um turbante, chega e libera muitas das coisas, os traumas do cabelo, da cor, que passou na infância. Isso já é uma transformação, uma transformação social”, descreve.
Dentre os desafios de ser uma mulher afro empreendedora, Glauce destaca que o principal foi se auto aceitar. Mas toda mudança passou por entender sua identidade, tendo como consequência, encontrar seu propósito de vida. Segundo Glauce, quando a mulher passa a ser aceitar como mulher negra, as outras pessoas a aceitam.
Transformação que impacta
Uma dessas mulheres foi Karine Silva da K12 Tranças, parceira do Box da Nêga há quatro anos. A empreendedora conta que sua experiência com o coletivo tem sido leve e transformadora, além disso regada a muita gratidão, pois resulta em muito aprendizado. “A gente aprende com a Glauce, porque de início, a gente sempre pensa que é somente sobre venda, sobre dinheiro. Mas aos poucos, você entende que não é, porque ela te inclui em tudo, ela te chama para tudo, ela te orienta com tudo que ela já aprendeu”, destaca.
Com ela, Karine já participou de inúmeros eventos, conseguiu ser reconhecida, e diz se sentir feliz, porque através dessa parceria, é possível crescer e ajudar outras mulheres negras. Atualmente, ela atende, tanto clientes de Itabira, quanto de outras cidades da região, como Santa Maria de Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Santa Bárbara. Mas, até fazer parte do box, Karine precisou conhecê-lo, e o que mais a atraiu foram as ‘munições de poder’ (brincos), pois têm muita cor e remetem à sua ancestralidade, à África. Desde então, a trancista começou a usar e divulgar os acessórios.
Para Karine, o coletivo tem um papel fundamental em sua formação e crescimento pessoal. “Transforma de todas as formas, porque te impacta em relação de você saber onde você está e onde você quer chegar. E você realmente ter projetos e poder alinhar 100%. Quem sou eu? Onde é que eu quero chegar? Então, o que eu vou fazer para poder crescer?”, declara, acrescentando: “Eu não tive muito problema em entender, por exemplo, que eu sou negra. Mas até você aceitar o que que você é, como a sociedade te trata, para você dar a volta por cima disso. Então, sempre me impacta dessa forma. Não só eu, mas para as outras parceiras também”, afirma.
Existe uma grande importância de as mulheres negras estarem à frente de negócios, falando diretamente com a sua comunidade. Para a jovem empreendedora do ramo das tranças, essa relevância se baseia em ser inspiração para outras mulheres pretas, pois é muito difícil ver negras em grandes cargos, principalmente sendo empresária. Karine torce por outras e quer ser: “É eu ver outras trancistas crescendo também. Pessoas que me apoiem em relação a isso. Então eu estou aqui, se eu consegui, você também consegue”, finaliza.