Tatiana Santos
O rapper itabirano Thiago SKP finalizou seu mais recente projeto, o livro “Primeira página”. O trabalho teve como foco estudantes do ensino público em Itabira, e promoveu uma aproximação dos alunos de periferias com o universo literário, da poesia e da cultura hip hop. O artista, que também é compositor e adepto do freestyle (improvisações com rimas), participou do programa Conexão Regional, da rádio Pontal, nessa segunda-feira (22/04). Ele deu detalhes sobre esse trabalho, que, por meio de um e-book, será disponibilizado para download em breve.
O projeto visou incentivar os jovens à literatura, estimulando-os a se expressarem, desabafarem, contarem suas experiências por meio da poesia. Conforme Thiago, a ideia é reforçar a identidade dos estudantes, os motivando a acreditarem que são capazes de vencer os obstáculos impostos pela sociedade. “E tem uma frase que eu gosto muito que é enquanto os leões não aprenderem a contar história, os caçadores serão glorificados. Então, a minha ideia era que os próprios jovens contassem a história de vida deles, que não precisasse vir alguém e contar no lugar deles, porque é muito importante esse protagonismo, sabe?”, fez uma analogia.
O trabalho, como descreveu o rapper, não é só a primeira página para uma leitura, mas uma forma de expressão. Até porque, quando a literatura foi inserida entre esses adolescentes, segundo Thiago, foi feita uma conexão.
Produção
A dinâmica de produção do livro aconteceu da seguinte forma: os estudantes foram encorajados a colocarem no papel, de maneira livre e transparente, seus mais profundos sentimentos. Ele convidou a colocarem para fora “o que você ama, o que você odeia, o que você quer que mude, quer homenagear alguém, o que te dá raiva, o que te motiva. E a gente vê o quanto é escasso o combustível para o sonho desses jovens, o quanto o teto de onde eles podem sonhar, eles acham que é tão baixo, sabe?”, argumentou.
A abordagem foi bastante didática, o que significa que o rapper não somente apresentou textos e poesias, mas também explicou técnicas de escrita, como a construção de rimas e figuras de linguagem.
SKP acrescentou que, da mesma maneira que se encontrou na cultura hip hop, onde descobriu muita cor, lhe apresentando um universo de possibilidades, ele também quis levar essa visão aos “meninos”, como diz. Quando chega em uma comunidade periférica e a poesia é apresentada, há uma certa resistência. Mas, no momento em que é possibilitado algo que conta o cotidiano deles, há possibilidade de o jovem se enxergar naquela história e na reflexão que está sendo contada.
Desde 2008
O trabalho de Thiago entre comunidades não é novo, mas vem de, pelo menos, 16 anos, quando ele já atuava nas periferias, levando seus projetos às escolas. Isso era algo que quase ninguém fazia. “E em 2008, a gente já ganhou também o Grammy da Periferia, que foi uma premiação de votação popular da música que teve aqui em Itabira. Então, ali a gente também começou a ganhar muito respeito das pessoas, porque uma coisa curiosa também, no início, o preconceito não veio da periferia. O preconceito veio da sociedade. Tipo, que música é essa que está ganhando espaço? Isso é música de marginal?”, lembrou.
Resultados concretos
No início da caminhada SKP, houve grande resistência devido à falta de conhecimento sobre o hip hop e o rap. Mas, hoje, para chegar às escolas e apresentar a proposta do projeto, tanto em Itabira, quanto em São Paulo e Rio de Janeiro, não houve dificuldade, já que o trabalho de Thiago se solidificou e gerou resultados entre os adolescentes.
Como isso aconteceu na prática? Conforme o rapper, “tendo jovens que foram beneficiados e mudaram tanto o resultado deles na escola. Porque quando a gente fala de literatura, não é só na esfera familiar ou acadêmica. Isso muda a perspectiva de vida, aquilo que você aprende ali, por exemplo, a interpretação”, esclarece.
Para ele, quando se fala em interpretar, quanto mais os jovens interpretam, mais questionam. “Não é só um texto, é uma pessoa, uma atitude, uma expressão”, finalizou Thiago.