Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Filha de itabirana, nascida curitibana, Cibele Xavier Drummond conta que encontrou na terra do poeta maior seu lugarzinho no mundo. Aos 44 anos, ela comemora um reconhecimento profissional para poucas pessoas. Cibele é finalista da 1ª edição do Prêmio MINA, na categoria “Mulher na Operação”, criado para reconhecer as mulheres que são destaque na mineração.
O prêmio é uma iniciativa do movimento voluntário Women in Mining (WIN) Brasil, que busca maior diversidade, equidade e inclusão em um mercado predominantemente masculino. E foi nesse ambiente que Cibele trilhou um caminho profissional repleto de desafios, superação, esforço e pioneirismo.
Coordenadora de operação de mina, Cibele é casada, mãe de dois filhos e dois pets. Sua história na mineração começou cedo, aos 22 anos, na mineradora Vale. “Meu pai trabalhava na empresa e, quando eu tinha 9 anos, em uma visita, tive a chance de conhecer de perto um caminhão fora de estrada. Foi amor à primeira vista. Falei para o meu pai: ‘eu vou dirigir um desse!’ E ele, me respondeu: ‘claro que não, isso não é coisa para mulher’. E, em 1989, realmente não era”, relembra.
Mas, como a própria Cibele faz questão de frisar, o universo quis que fosse possível. “Quando a Vale abriu processo seletivo, eu já estava pronta e habilitada com minha carteira D. Fiz a inscrição e, depois de sete meses de concurso, oito exaustivas e difíceis etapas, mais de 3 mil candidatos para 20 vagas, eu ainda tinha uma certeza… aquela era a minha chance”, recorda emocionada.
A realidade da mulher na mineração
Cibele se tornou uma das primeiras mulheres da Vale, no Brasil, a operar equipamentos de mina, fora de estrada. Mas, se ilude quem acha que, com um sonho conquistado, a caminhada dela foi fácil. Ao longo dos 19 anos em que esteve na mineradora itabirana os desafios não foram muitos.
“AS MULHERES OPERACIONAIS DAQUELA ÉPOCA PASSARAM POR COISAS DO TIPO: TRABALHO DE REVEZAMENTO DE TURNO COM FILHOS PEQUENOS; POEIRA NA PELE E NO CABELO; AMAMENTAÇÃO E ORDENHA SEM LOCAL ADEQUADO; PÉ INCHADO NA BOTINA POR GRAVIDEZ; UNIFORMES DESCARACTERIZADOS PARA MULHERES OPERACIONAIS; CICLOS MENSTRUAIS TURBULENTOS; RETORNO DE LICENÇA MATERNIDADE SEM POSTO DE TRABALHO”, NARRA.
Havia uma série de outros impasses. A coordenadora de operação de mina cita condições ainda mais extremas, como o fato de os equipamentos não terem adequações para mulheres, além de pouca ou nenhuma disponibilidade de banheiro. “Fazíamos xixi em copinhos ou garrafas. Precisávamos de calços para dar altura em escadas e pedais de equipamentos. As mulheres viviam sob aprovações e julgamentos. As posições nunca ocupadas por mulheres eram um paradigma para o ambiente dominado por homens. Eu era a única representante em reuniões, tive que ser dura e firme, trabalhar mais tempo e intensivamente para não parecer fraca…”, descreve.
Carreira paralela: Cibele cantora
Mas, engana-se quem acha que as adequações para enfrentar os percalços do trabalho na mineração fizeram de Cibele uma mulher forjada a ferro e poeira. Para além de toda a dedicação nas operações de mina, ela desenvolveu outra carreira, completamente oposta, como cantora.
“ESSA É AQUELA PAIXÃO QUE TOCA A ALMA! COMECEI NA MÚSICA AOS 15 ANOS, DANÇANDO EM UMA BANDA DE BAILE DE ITABIRA. FORAM ANOS E ANOS DE PALCOS, ENTRE FESTAS E CARNAVAIS, SENDO MOTIVADA PELA ALEGRIA DAS PESSOAS. ME TORNEI CANTORA, POR UM ACASO, SEM ESTUDO, SEM AULA DE CANTO, NA UNHA MESMO. GRAVAMOS MÚSICA, FIZEMOS FESTIVAIS DE INVERNO, FESTA DO DOZE EM OURO PRETO, FESTAS PARTICULARES, FORMATURAS, SHOWMÍCIOS, CARNAVAIS. POSSO DIZER QUE CONHECI PELO MENOS 150 CIDADES DIFERENTES COM A MÚSICA”, REVELA.
Para ela, a música ajudou na trajetória profissional na mineração. Cibele explica que a arte influenciou diretamente na capacidade de lidar com desafios como, ambiente cheio de estereótipos e preconceitos. “As experiências com público, com as adversidades de bandas com poucos recursos e, principalmente, o desejo de fazer as pessoas felizes, aprendi com a música. Quando estou triste, tem um ritual que utilizo que é estabelecer uma meta de fazer um número x de pessoas sorrirem. Porque o desafio do músico é fazer pessoas felizes! Até hoje, nos intervalos da vida cotidiana, me descomprimo tocando com amigos!”.
Como votar
Agora, a conquista desse prêmio está ainda mais perto, já que basta votar em Cibele Xavier, no site do WIN Brasil. Ela é indicada na categoria “Mulher na Operação”. A votação acontece até o dia 12 de julho.
Os vencedores receberão o Troféu MINA, em um dos palcos da EXPOSIBRAM 2024, no Expominas, em Belo Horizonte, no dia 10 de setembro. Fonte desta matéria: Cidades e Minerais